sábado, 10 de março de 2012

Um corpo, um sofá

Que triste fim, esperar a morte chegar. Terça ou sábado, tanto faz. 

Um dia, sábado foi especial. Todas as filhas reunidas, música alta, cheiro de churrasco e sal. Os dentes mal cabiam na boca, de tanto que ria. Toca varrer o quintal, limpar o neto e ouvir os lamentos do genro. 

Todos queriam ficar por perto. Era importante, apresentava solução pra tudo, se interessava pela vida do outro, era boa companhia. 

Hoje é só sofá. O som da voz vem para alertar sobre a dor nas pernas e o desejo de ir embora. Sem filhas e música, os dentes saíram da boca direto para o copo d’água. Nem as lembranças lhe pertencem mais, não sabe onde encontrá-las.

A casa não é sua. Nem a cama, nem a mão que ajuda durante o banho.  De som, só o da televisão. Companheira que justifica seu silêncio.

Terça ou sábado? Realmente, tanto faz. Não quer agir. Deixa como está, fica pra próxima. A vida já foi. O corpo que se perdeu e ficou aqui, grudado no sofá.