terça-feira, 7 de maio de 2013

Sem título e sem desfecho


Os pés de Julia estão atados ao chão de tal maneira que não lhe permitem sonhar. No plano térreo do racional, todo devaneio é cortado pela raiz ou pisoteado pelos pés que a sustentam, mas não levam a nenhum lugar. A menina foi acometida por uma doença grave que alterou por completo o percurso de sua vida: a desilusão.

Traída pelo amor, que por anos manteve o disfarce de aliado, descobriu-se obrigada a libertar quem gostaria de prender. O querer estar perto deve ser natural ao coração. O seu estava repleto, dificultando a interpretação das mensagens do outro ao mostrar que o dele não. Não mais. Entre tantas opções sinceras, escolheu a mais dolorosa de partir.

Transformada em rocha, seu olhar petrificou. Não enxerga nada que valha o risco de caminhar fora da fortaleza que criou. Recebe olhares e os ignora. Das pessoas interessantes que cruzam seu caminho, realça os defeitos. Mês passado encantou-se com o sorriso de um homem no mercado. Na dúvida, não sorriu de volta. Desde então vai sempre ao mesmo local, na esperança de reencontra-lo. Talvez nunca mais.

Julia não se permite viver, por acreditar que já conhece o desfecho da história sem esta ao menos começar. Menina Julia, o desfecho não existe. Os momentos sim. E a beleza em alguns deles vale por mil desfechos ruins.

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